Uma moradora de Campinas (SP) denunciou um cirurgião plástico de São José do Rio Preto (SP) por suposto erro médico após passar por uma cirurgia para substituição de próteses de silicone e ficar com as mamas deformadas por cicatrizes. Ela ingressou na Justiça com uma representação criminal. A Polícia Civil também instaurou um inquérito policial para investigar o caso. O médico nega que tenha havido "falha na técnica cirúrgica".
O procedimento cirúrgico foi realizado em 2022. A investigação conduzida pelo 1º Distrito Policial de Rio Preto apura se o médico cometeu o crime de lesão corporal em razão da condição de mulher da vítima.
A abertura do inquérito policial foi determinada pela 1ª Vara Criminal de São José do Rio Preto, em abril deste ano, a partir da notícia-crime que a vítima apresentou à Vara de Violência Doméstica e Familiar de Campinas, em outubro de 2023.
Na representação, a empresária, de 49 anos, pede a investigação do médico por lesão corporal e a punição dele em âmbito criminal por violências física e psicológica.
A empresária também pede indenização de quase R$ 260 mil por danos morais, estéticos e materiais, alegando que teve de arcar com uma nova cirurgia com outro profissional.
Notificada, a Justiça de Rio Preto iniciou a apuração do caso este ano. Tanto a empresária quanto o cirurgião plástico já prestaram depoimentos. A investigação agora se encontra na fase da produção de provas e apresentação de laudos periciais.
Outros processos
O cirurgião plástico responde na esfera cível a outros oito processos de indenização por dano moral relacionados a serviços de saúde, e que foram listados pelas advogadas da empresária de Campinas na notícia-crime.
Em um deles, de 2015, o cirurgião plástico foi condenado pela 5ª Vara Cível de Rio Preto a ressarcir em R$ 30 mil uma paciente por danos morais e estéticos resultantes de uma cirurgia de mastopexia com implante de silicone que terminou com estrias e cicatrizes anormais, largas, escuras e anti-estéticas.
De acordo com a advogada Gislene Torino Chiulo, que representa a empresária de Campinas, ela passou por uma situação similar ao caso que gerou a condenação do cirurgião em 2015.
Trauma e decepção
A empresária de Campinas conta que procurou o cirurgião plástico pela primeira vez em 2022 por indicação de uma amiga de Rio Preto. Ela tinha o desejo de trocar as próteses dos seios, que tinham 13 anos de duração.
A cirurgia, que foi realizada em abril daquele ano, no Hospital de Otorrino e Especialidades de Rio Preto, custou R$ 15 mil. A partir dali, começou o que a empresária classifica como uma "experiência traumatizante".
Ela reclama na Justiça que o resultado não saiu como o esperado: as mamas ficaram inchadas, com cicatrizes em tamanho maior do que o normal, deixando os seios e os mamilos assimétricos.
"Me senti um Freddy Krueger, cheia de marcas. E o médico dizia que era normal", afirma a empresária, fazendo referência ao personagem de filmes de terror.
Insatisfeita com o resultado da cirurgia, a paciente conseguiu que o médico agendasse uma correção. O segundo procedimento foi realizado em 21 de dezembro de 2022, na clínica do cirurgião, o que surpreendeu a empresária.
"Achei o ambiente inadequado, tinha que ser no hospital. Desta vez, foi anestesia local e, não, geral. Senti dor, foi horroroso. Foi traumatizante", diz ela.
As cicatrizes permaneceram e a empresária conta que passou a sofrer de depressão e crises de pânico. "Me isolei em casa, desfiz uma sociedade de negócio que tinha com meu filho. Chorei muito", diz.
A empresária conta que procurou outro cirurgião plástico em julho de 2023, submetendo-se a um novo procedimento para melhora das cicatrizes e da simetria dos seios, pelo qual pagou R$ 30 mil. O resultado, desta vez, foi satisfatório.
"Mas tem marcas que a medicina não consegue tirar, como as marcas psicológicas. Ainda hoje não consigo colocar um biquíni", revela.
Ela disse que ficou surpresa ao descobrir, posteriormente, que o cirurgião plástico rio-pretense responde a processos que exigem indenização por causa do serviço prestado. "Acabei não pesquisando antes para saber o histórico dele. Foi uma surpresa", declara.
Não houve erro
Em nota divulgada pelo advogado, o cirurgião plástico nega que tenha havido "falha na técnica cirúrgica". O profissional informa que "todo procedimento cirúrgico está sujeito a riscos e limitações" e que a paciente tinha conhecimento desses riscos ao assinar previamente o termo da cirurgia.
O médico afirma, na nota, que tem total convicção de que empreendeu "todos os esforços possíveis dentro do limite da ciência médica" no atendimento da paciente. "Confio na Justiça e na perícia técnica para que a verdade seja trazida à tona", ressalta.
Ele destaca que exerce a medicina há 24 anos, tendo atendido mais de cinco mil pacientes.
"O erro médico é caracterizado por imprudência, imperícia e negligência. Não é este o caso", afirma o advogado João Paulo Cruz, que representa o cirurgião.
Confira a nota na íntegra:
"Mesmo diante do meu interesse em esclarecer publicamente todos os fatos e as condições relacionadas ao atendimento realizado em favor da paciente retratada nessa matéria, ressalto que, por força do Código de Ética Médica e do sigilo processual, meu posicionamento será restrito.
Todo procedimento cirúrgico está sujeito a riscos e limitações, condições expostas a todos os meus pacientes antes da realização de qualquer procedimento e que constam no termo assinado previamente pela paciente. No presente caso, não houve qualquer intercorrência ou falha na técnica cirúrgica realizada.
Exerço a medicina há 24 anos e já atendi mais de cinco mil pacientes. Sou membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e todo o meu trabalho é orientado pelos pilares éticos e científicos determinados pelo Conselho Federal de Medicina.
Tenho total convicção de que empreendi, no atendimento em questão, todos os esforços possíveis dentro do limite da ciência médica. Confio na justiça e na perícia técnica para que a verdade seja trazida à tona e sigo à disposição para eventuais dúvidas."